quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Vinte e Oito - para Berenice Roth (09/01/2010)



A Lua leva 28 dias para dar a volta no Planeta Terra.

28 é, no jogo do bicho, do grupo 07, carneiro, meu signo.

O níquel é o elemento químico de número atômico 28, símbolo Ni.

28 é, segundo a Wikipedia, número composto, que tem os seguintes fatores próprios: 1, 2 ,4, 7 e 14.

Como a soma dos fatores é 28, trata-se de número perfeito, como nosso amor.

28 anos marcam nosso tempo juntos, sem contar os 5 antes.

Contando os 5 antes, geram 33, idade de Cristo.

28 segundos não fazem meio minuto, 28 dias não completam o mês, salvo fevereiros não bissextos.

Viveremos juntos pelo menos outros 28 anos.

28 anos são meras etapas de um amor sem datas e sem previsão de término.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Cinco anos da Lei de Inovação Tecnológica, uma lei que pegou

Nesta semana, a Lei n˚ 10.973, também conhecida como Lei da Inovação Tecnológica, promulgada em 2 de dezembro de 2004, completa cinco anos, permitindo um balanço em conjunto com a Lei do Bem (Lei n˚ 11.196, promulgada em 21/11/2005), que lhe é complementar.

A subvenção, prevista na Lei de Inovação, administrada pela Finep/MCT, permitiu que nas áreas selecionadas (TIC, Biotecnologia, Nanotecnologia, Energia, Saúde, Temas Estratégicos e Desenvolvimento Social) uma subvenção não reembolsável de mais de R$ 1,5 bilhão tenha sido contemplada às empresas inovadoras.

Valor esse complementado por vários outros investimentos de maior monta, acessíveis às empresas que inovam, em inúmeras outras modalidades, especialmente reembolsáveis, operadas pela Finep e BNDES.

Por sua vez, a Lei do Bem, parte integrante da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, concede incentivos fiscais para empresas que realizem atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica. Trata-se de um programa que funciona via autodeclaração dos próprios empresários.

A Lei do Bem tem estimulado que empresas declarantes em lucro real e que inovaram tecnologicamente aumentem seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento que em 2006 atingiram aproximadamente R$ 2,2 bilhões por parte de 130 empresas. Já em 2007 saltaram para 299 empresas declarando mais de R$ 5,1 bilhões.

Neste ano (observar que em 2009 computamos o ano fiscal 2008), o número de empresas saltou para 441 e os investimentos atingiram mais de R$ 8,1 bilhões. Ou seja, em apenas três anos, o incremento em número de empresas é da ordem de 240% e de valores de 270%.

Somente nesse item, os investimentos das empresas em pesquisa e desenvolvimento em relação ao PIB brasileiro, saltaram de 0,09% em 2006 para 0,19% em 2007 e atingiram 0,28% do PIB em 2008. As áreas que têm até aqui feito uso mais intensivo da Lei da Bem são: Mecânica e Transportes, Petroquímica, Bens de Consumo, Metalurgia, Eletroeletrônica e Farmacêutica.

As Leis de Inovação e do Bem corroboram que inovação tecnológica é agregação de qualidade e requisito essencial para uma economia competitiva, próspera e sustentável, com melhores empregos e salários, e menor dependências de commodities e royalties pagos ao exterior. As empresas brasileiras têm avançado em inovação em ritmo superior a qualquer outra economia latino-americana, sendo que as empresas respondem por parte substantiva dos investimentos nacionais em pesquisa e desenvolvimento.

O Brasil tem exemplos muito positivos e ações elogiáveis na área de inovação tecnológica, mas nada que retire a marca de ser, predominantemente, um país que aprendeu a fazer ciência, produzir conhecimento de ponta, sem ainda o acompanhamento da desejável transferência desses conhecimentos ao setor empresarial.

A realidade indisfarçável é que nossa reconhecidamente boa pós-graduação e nossos qualificados pesquisadores, os quais lograram dobrar nossa participação percentual em periódicos especializados na última década, impactaram de forma somente tímida, ainda que crescente, as condições para o aumento da taxa de inovação das empresas brasileiras, viabilizando aumentar o valor agregado do seu faturamento, crescer a produtividade e ampliar a competitividade nos mercados interno e externo.

Portanto, um balanço possível é que o Brasil conta hoje com uma legislação recente e específica sobre inovação, a qual associada com suas respectivas regulamentações, compõem um marco regulatório moderno e adequado, ainda que a natureza e a dinâmica do tema demandem permanentes revisões e atualizações.

Em que pesem a inegável contribuição das Leis de Inovação e do Bem e das experiências recentes muito positivas de absorção da cultura de inovação tecnológica pelas empresas, somos ainda um país que prima pela excelência da ciência que faz sem ter ainda uma correspondência no mesmo nível quanto à transferência desse conhecimento ao setor produtivo.

domingo, 3 de maio de 2009







Nossos primos bonobos



Em termos de classificação de níveis de parentesco, os bonobos são definitivamente nossos primos irmãos, sendo hoje considerados os animais mais próximos dos humanos. Seja pelo nível de compartilhamento de DNA ou pelas características mais assemelhadas em níveis de percepção, comportamento geral e habilidades.

Muito mais há ainda ser descoberto, dado que a espécie Pan paniscus, conhecida agora como bonobos, é descoberta recente (1928), sendo que até recentemente eram confundidos indistintamente com os demais chimpanzés. Eram de fato conhecidos como uma subespécie, denominada chimpanzé pigmeu ou chimpanzé anão ou grácil. Na verdade, ambos, o bonono (Pan paniscus) e o chimpanzé comum (Pan troglodytes) formam o gênero Pan.

Os bonobos foram descobertos por um anatomista americano (Harold Coolidge) e relatados em artigo publicado no ano de 1929, através de estudos de diferenciação craniana. Além disso, os bonobos se distinguem pela postura mais ereta, constituem uma sociedade mais igualitária e matriarcal, apresentam uma capacidade de empatia singular e uma atividade sexual própria, não existindo relação direta entre sexo e reprodução.

O sexo tem um peso grande nas suas relações, seja como elemento reconciliador, compensando características de agressividade mais presentes nos chimpanzés, sendo que a receptividade ao sexo transcende o período fértil (somente humanos e bonobos parecem agir assim) e estando presente quase sempre ao longo da vida adulta da espécie.

Um dos motivos da demora na descoberta da espécie é que ela é bastante localizada, sendo toda concentrada no Zaire na África central, mais especificamente na Reserva de Lomako, em uma das margens do rio.

Outra denominação para os bonobos costumava ser “chimpanzés hyppies”, em função da convivência pacífica e do comportamento sexual livre em um ambiente onde as chefes dos clãs são fêmeas e sexo é parte principal das relações sexuais. Em que pese a taxa de natalidade ser semelhante à dos chimpanzés (um filhote a cada cinco anos), os bonobos são considerados entre os primatas aqueles que fazem sexo com a maior frequência.

Esses surpreendentes bonobos são mais elegantes do que seus parentes de gênero chimpanzés por terem pernas mais longas, cabeças menores e ombros mais largos. Além disso, têm lábios vermelhos, rosto negro, orelhas pequenas e um rosto largo e cabelos compridos que costumam dividir no meio.

Certamente as novas descobertas sobre os bonobos nos obrigarão proximamente a rever muitos conceitos e a entender melhor as demais espécies com as quais compartilhando o mesmo planeta.

(as fotos acima, da esquerda para direita e de cima para baixo, são, respectivamente, encontradas em: http://www.toequest.com/; http://polandsite.proboards104.com/; http://www.indymedia.ie/; e http://www.fedbybirds.com/)

quinta-feira, 23 de abril de 2009






















Vento Nordeste








Leve, livre, solto
no espaço imenso
- um encontro –
lanço pro alto meu corpo
vivo como flutuo no ar.
Eterno, terno, brilhante
sina infinda dos amantes
- um amor –
olhar sereno, vivo, parado,
a praia, o vento e o sol.
Tal qual folha candente
que o sopro nordeste assopra
fazendo voar
flutua no ar
resiste no espaço
alegres frases de se amar.
Quem sabe vente de novo
e me assopre livre, leve, solto
e eu encontre você
- vento nordeste –
num vôo como no ar.
Um amor que toque o ventre
que adentre o meu coração
-um talvez –
volta o vento
venta nordeste
faz voar
flutua de novo no ar.

sábado, 11 de abril de 2009

















Rico Pantanal e sua Gente Fabulosa







Semana passei estive em Campo Grande, onde apresentei uma palestra. Na verdade, aprendi muito. Trata-se de uma gente maravilhosa que habita um eco-sistema espetacular.

Mas, por mais que a natureza nos impressione, a natureza das pessoas de lá impressiona mais. O Prof. Pedro Chaves, o Fernando Bunlai, amigos de longa data, e as amizades recentes que fazemos, tornam a beleza do Pantanal não menor, mas complementares, coadjuvantes da riqueza humana daquela terra.

O Pantanal está basicamente nos estados do Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MT), tendo seu início no primeiro e boa parte de seu território no segundo. No MS, o Pantanal cobre o extremo oeste do Estado, as planícies, o noroeste e os planaltos. Sobre o MS, o povoamento começou na década de 1830. Em 1977, o MS foi desmembrado do MT, transformando-se em estado em janeiro de 1979.

A economia do MS se baseia principalmente na agricultura (soja, milho, algodão, arroz e cana-de-açúcar), na pecuária, na mineração (ferro, manganês e calcário) e na indústria (alimentícia, de cimento e de mineração).

Um fato destacável sobre o MS é a qualidade da educação básica no estado. Campo Grande tem sistematicamente ficado em primeiro lugar, ou entre os primeiros lugares, entre as capitais analisadas nas avaliações nacionais.

No MS, os principais rios são o Paraguai, Paraná, Paranaíba, Miranda, Aquidauana, Taquiri, Negro, Apa e Correntes, sendo o Paraguai o principal rio do Pantanal, o qual serpenteia toda a região. Na época das chuvas, o que representa quase metade do ano, ele e seus afluentes sobem bastante, invadindo as margens e transformando-se em criatórios naturais de peixes. As fotos que vocês aprecia acima são do Rio Miranda, depositário do Negro e que deságua no Paraguai. O peixe, um jaú de quase 1 metro e mais de 10 Kg.

O Pantanal é especialmente notável pela riqueza de sua fauna, ela é abundante e extremamente exuberante. Segundo estudiosos, se trata do mais sofisticado bioma brasileiro, justificada a afirmação pela concentração faunística, seja ela aquática como alada.

Se a riqueza natural impressiona, ela somente corrobora a beleza humana da região.

domingo, 15 de março de 2009

















ODE À REBELDIA


Acho a vitória tão inglória,

é tão grande a minha mágoa

que, mesmo vencedor, ajoelho-me

e rogo aos vencidos que me perdoem.

Não seja minha mão pesada

ato capaz de submeter-vos;

o argumento de minha alegria

é sim motivo de meu pesar,

causa de minha tristeza.

Ah, pobre de mim,

ser vencedor e padecer no trono,

é dar força ao inimigo

que na surdina se encontra

e no dia a dia se avoluma

e ganha forças

e ser um dia,

que pouco importa quando chegue,

ser por fim um vencedor;

como eu,

ah, pouco importa,

e depois mofar no trono.

Não, não quero nunca ser rei,

muito menos seus súditos,

nem dominador, nem dominados;

serei rebelde, eternamente rebelde,

iconoclasta,

contra o poder e avesso aos donos, sem freios.

Viva a rebeldia,

abaixo as elites efêmeras.

sábado, 14 de março de 2009




VOCÊ





Hoje eu poderia fazer a cara mais triste do mundo
ou explodir de alegria.
Chorar amargo num desespero insano
ou incendiar os sorrisos dos presentes.
Padecer ausente
ou atear em mim mesmo o fogo de tua presença.
A tua ausência
é o ato de mexer comigo.

quarta-feira, 11 de março de 2009










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À SANTÍSSIMA TRINDADE

Eu gostaria de ser três pessoas em uma só.
De uma delas seria um revolucionário,
levaria o povo aquilo que por direito é dele,
derubaria do trono os reis cruéis,
às crianças ensinaria seus direitos
e a cada homem desde pequeno o ensinaria a ser guerreiro.
De outra vida faria surgir um ser que que não conhece a violência,
que crê na bondade,
quer o bem e o vê de modo diferente,
através de atitutes pacifistas levaria o povo ao que é dele,
convencendo o rei a abandonar a coroa,
às crianças ensinaria tão somente a bondade
e aos homens desde pequeno seus deveres
e a cada um deles o tornaria um pacifista.
E a terceira e última pessoa que me resta
seria então crucificada pelo povo.

segunda-feira, 9 de março de 2009



























AULA MAGNA NA UFS E APRENDIZAGEM IDEM


Ronaldo Mota



A Universidade Federal de Sergipe (UFS) teve seu início, enquanto Universidade, durante a década de 1960, resultado de iniciativas anteriores que datam da década de 1920.

Na verdade, hoje a instituição poderia denominar-se Universidade de Sergipe, dispensando o sobrenome do meio, dado sua afinidade e compromisso com o Estado. Não há tema de desenvolvimento estadual que não seja assunto de sua alçada e não há, igualmente, solução que não conte com sua participação solidária.

Mais recentemente, especialmente através dos Programas Universidade Aberta do Brasil (UAB) e Reestruturação Acadêmica e Expansão das Universidades Federais (REUNI), tem sido possível à UFS mais do que dobrar suas vagas e propiciar cursos em áreas estratégicas, inexistentes até então.

O Reitor, Prof. Josué Modesto, é um dos mais renomados economistas do país, profundo conhecedor de história econômica, matéria imprescindível para entender o contexto da crise atual. O Vice-Reitor, Prof. Ângelo Antoniolli (comigo na foto ajudando carregar o peixe), um cientista na área de farmacologia com visão empreendedora singular, em conjunto com equipe administrativa competente e harmônica, compõem a receita para uma universidade de sucesso, como tem sido observado na prática por todos naquela unidade da federação.

Tive o prazer de ministrar a Aula Magna da UFS por ocasião dos inícios das atividades acadêmicas deste ano, especialmente aos estudantes recém-ingressos dos turnos diurno e noturno. Em ambos os períodos, deparei-me com calouros muito interessados no tema do método científico e a evolução histórica ao longo dos caminhos da humanidade. Caminhos que passam pelo Australopithecus, Homo habilis, Homo erectus, Homo neanderthalensis e Homo sapiens sapiens, bem como nosso berço maior da civilização ocidental: a Grécia Antiga (ver figuras acima).

Não sei se consegui ensinar tudo o que pretendia, mas aprendi muito no final de semana posterior. Aprendi muito, particularmente no contato com a natureza. Existe uma região, próxima com a divisa com a Bahia (Mangue Seco, mais exatamente), próximo à localidade de Estância, onde braços do mar adentram o território sergipano, formando um eco-sistema de manguezal admirável.

Aprendi (comecei a aprender) o papel do mergulho na observação daquilo que de fora não é visto na riqueza do fundo daqueles cursos d’água. Pescamos na medida de nossa capacidade de comer, preservando o equilíbrio natural. Mesmo assim, os peixes são enormes.

Com o apoio do mergulhador Misso (pescador nativo) pudemos escolher a dedo (que aperta o arpão) um peixe (garoupa) fantástico de 45 Kg (ver fotos). Fantástico ver charéus de quase um metro de comprimento cercando cardumes de curimãs (tainhas para os do sul). Um ambiente inigualável em beleza.

Aprende-se muito, especialmente a diversidade do Brasil e sua riqueza humana, podendo conviver com pessoas da mais alta qualidade e espírito humano solidário e adoradores da confraternização. Vivendo e aprendendo, ensinando quando possível.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009




















GENTE

Quando a negritude da coisa se evidenciar
quando o nosso peito jaz calado
e forte angústia nos toma dentro
e dentro rompe emudecendo a boca
evitando os gestos
e lança-nos para o interior do fosso sem fim
a mente se deixa imaginar imprevistos de horror
o corpo se sente fraco e sem vontade de reagir
é a hora
mais hora do que nunca
de se sentir capaz
valente, potente
de coragem invulgar
do rastejar ás fortes pernas
do peito calado à forte voz
e romper a angustia coma audácia do saber
que isso tudo é, antes demais nada, ser gente
e gente, como diz o poeta Caetano,
foi feita para brilhar
e não para morrer de fome.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

















OS SÁBIOS EXISTEM:

NASSIM, O ARQUEIRO DO BEM


Há uma evidente tendência do ser humano de exagerar e mitificar, tornando coisas simples e comuns em complexas e extraordinárias. Da mesma forma, os mesmos humanos, normais e mortais, padecem do mal contrário: não sabem identificar claramente quando um sábio compartilha conosco o mesmo tempo e espaço.

Cada um de nós tem a pretensão de estar imune aos dois desvios acima e eu não sou diferente. No entanto, conheci e sei reconhecer um sábio, especialmente quando ele foi o sábio entre os sábios. O arqueiro do bem. Quando a sabedoria lhe foi congênita, tendo a exercido plenamente, deixando poucas dúvidas sobre sua extraordinária capacidade da bondade transcendente.

Deixou testemunhas e testemunhos de seus talentos, restando escritos que simplesmente relatam e comprovam, desnecessariamente, a sensibilidade incomum. As memórias serão aquelas que os sábios legam, despretensiosas, porém eternas, contadas de boca em boca, retratando heroísmos e odisséias, que tanto faz terem ou não ocorridos.

Nessa noite, que ficou entre o dia de ontem e o de hoje, faleceu um sábio: Nassim Alexandre Chaker. Um bruxo, no sentido melhor do termo. Conhecia e conversava com a natureza. E ela respondia e somente ele ouvia. Só quem o viu espremido entre as ondas violentas do mar e as pedras gigantescas das encostas, caçando mariscos, pode entender que ele era parte integrante do sistema. Não era “entre” no sentido de empresado, mas “entre” no sentido de iguais, sem separação, entre forças da natureza.

O tempo corria diferente para ele, em todos os sentidos. Quem dele se lembrar de camionete do pai enfrentando as madrugadas da Av. Rui Barbosa na década de 70, o reconhecerá o mesmo neste início de milênio, ainda que não sumam mais tantos carneiros nas vizinhanças. O tempo lhe corria externo. Da mesma forma, o tempo, abundante e próprio, permitia que ele dispensasse a pressa ao conversar longamente com os amigos ou recém conhecidos, com a mesma plenitude temporal.

Seus escritos, seu maior e último orgulho, falavam de coisas simples e triviais de uma maneira singular e excepcional. Passava sempre a impressão que ele estava além do que as palavras queriam expressar, talvez querendo exprimir isso mesmo, aquilo que ficava além das palavras, ainda que delas fizesse uso.

Não é claro para onde vão ou se existem as almas, todos com direito às suas crenças. Mesmo assim, se ele estiver hoje em outro lugar, lá terá coelho com tabule, preparados com muito esmero, num ranchinho que o além também deve permitir conter, um fogão de lenha improvisado, ainda que luxuoso, a ser compartilhado pelos amigos.

Sábios não aparecem todos os dias, muito menos morrem. Mas hoje se foi um sábio, talvez o mais lúcido de todos. Esperto, sem nunca ofender ninguém, ciente do rito de passagem, espalhando luz. Simples, demasiadamente simples, tanto quanto a complexidade de reconhecer o extraordinário. Hoje é um dia muito especial, alguém que deixou ensinamentos partiu. A nós, que os recebemos, resta reconhecer.

(Ronaldo Mota, primo de Nassim Alexandre Chaker)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009


















CASA VAZIA



Que os morcegos invadam que a casa é sua
que a sombra errante do medo
adentre e tome conta
e a solidão se espalhe
querendo nos fazer companhia.

Ingrata se instale
finque fundo no coração o dia-a-dia do não-retorno
e o pulsar do coração a se fazer medidor
sonolento contar dos dias.

O ar onírico nos perturbe os olhos
e ao fechá-los nos popule de imagens a mente
da casa que era coberta de alegria
de gente que era gente
como a gente queria que fosse eternamente.

Mas a desgraça do tempo andou
e tudo mudou
já chove nas ruas e a água a tudo inunda
mas mesmo assim
lá fora está mais seco do que dentro
da casa nua e crua
que por dentro chora
lacrimeja os que partiram
e inunda de saudades o coração.

Casa vazia,
são pedaços de nós dois que se partiram.

sábado, 31 de janeiro de 2009




NOTAS VELHAS

Meu avô chegou ao Brasil em 1922, vindo do Líbano, analfabeto (em qualquer língua) e virou mascate, como tantos outros.

Deixou, quando faleceu, uma mala cheia de dinheiro, notas antigas numa mala esfarrapada pelo uso. O desconhecimento de seus descendentes fez com que, rindo, jogassem fora as notas e ironizassem a fortuna, a qual, de fato, o era. Fortuna mesmo, mas...explicar que notas quanto mais velhas mais valem além de suas faces é difícil!

Temperamento que inspirava cuidados, muitas mudanças de hábitos e costumes. Acho que o termo chato aplicava-se a ele sem reparos maiores. Tantos mares cruzados e tantas armadilhas, inclusive o bolso curto da calça, por economia, que fez com que perdesse o dinheiro que traria o resto da família que havia ficado para trás.

Mas vamos à maior riqueza que ele me deixou. Um dia me chamou e falou um ditado em árabe e traduziu no fraco português (o árabe devia ser igualmente horrível): “Para amigo qualquer um serve. Escolha bem seus inimigos e com eles aprenderá. Quanto mais éticos, mais te obrigarão a sê-lo, quanto mais competentes, mais desafiadores, quando mais espertos, mais te instigarão a inteligência, quanto mais generosos, eles te ensinarão a compaixão".

Meu avô virou nome de estrada, a rodovia que liga os Estados de São Paulo e Paraná, de Assis-SP a Londrina-Pr. Não sei se os caminhoneiros sabem onde andam. Nem sequer essas mensagens caberiam nas placas de advertências daquelas estradas.

Ele sabia podar figueiras e mangueiras, e bem. O tempo o fez esquecer o lado errado da poda na escada e podou-se junto, caindo e iniciando uma queda que lhe tiraria as forças que tanto teve para enfrentar um mundo novo.

Chegou ao Brasil baseado numa promessa falsa que o ouro era encontrado nas ruas. Curiosamente, ele encontrou o ouro simbólico e entendeu assim.

Morreu brasileiro, não sei se menos chato, mas, mesmo com toda dificuldade em falar o português, não se esqueceu de passar seus melhores ensinamentos. Espero que tenhamos aprendido. Espero poder tentar repetir para meus netos, que ainda não os tenho, mas já sou chato também.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Ciência, Tecnologia e Gerações na VI Bienal da UNE




Realizou-se em Salvador-Ba na semana passada a VI Bienal de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE), onde participei como convidado. Um dos temas destacados pelos organizadores foi o papel da educação e da inovação nas universidades e, principalmente, indo além de seus muros.

Foi uma oportunidade muito rica de apresentação e debates de idéias acerca de um tema crucial que impacta na educação superior através da extensão, em todas as suas dimensões, na economia, enquanto resultados das tecnologias que são engendradas pelo desenvolvimento científico, e, especialmente, pelo incentivo à inovação e à criatividade em todos os seus aspectos.

Além de todas as contribuições decorrentes das dezenas de atividades desenvolvidas, foi um momento único em termos de oportunizar o encontro de várias gerações de acadêmicos, permitindo observações muito interessantes sobre o que diferentes faixas etárias têm para aprender e ensinar quando se encontram. Aprender juntos quando pensam que ensinarão sozinhos e educar coletivamente quanto mais nos assumimos enquanto eternos aprendizes.

Os tempos atuais se caracterizam pelas quebras de barreiras. De gênero, cada vez mais mulheres em qualquer área da atividade humana, de etnias e raças, em um mundo cada vez mais multicolorido, e de enfrentamento de vários outros preconceitos. Um quase preconceito, menos perceptível, permanece: o de idade. E como é difícil superá-lo.

Por mais que observemos as citadas evoluções, os agrupamentos sociais têm, em geral, nas faixas etárias um estigma. Mais jovens com os seus, os adultos menos idosos nos espaços respectivos, cada vez mais comuns os programas para terceira idade etc. Há, naturalmente, cruzamentos e junções etárias, mas são raros.

Ainda que episódicos esses eventos, interessante perceber como são profícuos, sendo momentos onde todos acumulam experiências e educam, coletiva e solidariamente. Não importa que não seja simples aos mais jovens observar a dimensão do que significa termos vivenciado o surgimento dos Beatles ou a queda da ditadura. Afinal, somente 35% da população sabem o que foi o movimento "Diretas-já!" de 25 anos atrás. Tão difícil como nos convencermos (e nos consolarmos) de quantos Obamas os mais jovens vivenciarão, ainda que, desafortunadamente, no futuro não mais compartilhemos, talvez. Importa agora o que os extremos etários têm a falar, e a ouvir, entre si.

O estranho, muitas vezes, é acharmos naturais coisas que, de fato, não o são. Tende-se a imaginar o mundo atual mais libertário e inovador, enquanto o antigo retrógrado e preconceituoso. Vejamos, a título de exemplo, as danças e os momentos de confraternização. Alguém já parou para refletir sobre o que foram os saraus dançantes de outrora. Nada mais ousado, despudorado. Dançava-se agarradinho, até de rostinho colado, com quem nunca se vira antes. Era simples, convidava-se a moça, se com sorte ela aceitasse, eram momentos primorosos e inesquecíveis. O contato físico, o perfume e todas as sensações decorrentes.

Hoje, em geral, as danças são quase solitárias e nada solidárias. Fosse o inverso, do descolado e distante antes para o juntinho agora e teríamos todo tipo de acusações contra a evolução indecente, inaceitável e ultrajante. Já imaginaram quantos processos de assédios teríamos hoje se metade das evoluções daquele período ousasse prosperar nos salões atuais?

Voltemos para o evento da UNE mais diretamente. Há um admirável permanente despertar de estudantes universitários e secundaristas. Todos muito conscientes, bem intencionados e maduros politicamente. É um permanente, vigoroso e elogiável renascer permanente, gerando a formação de quadros muito preparados para enfrentar os desafios das próximas gerações. Diria mesmo que este movimento em direção a ouvir os menos jovens é fruto exatamente de tal maturidade.

Quanto vale ouvir o jornalista Raimundo Pereira sobre democratização da mídia? Pode-se pensar, ter opinião, mas Raimundo foi além, ele fez. E fez muito. Acertou, errou, tanto faz. A dimensão de seu trabalho no ciclo Opinião, Pasquim, Movimento, Em Tempo etc. é transcendente. Ouvi-lo uma obrigação e um prazer para quem quer pensar o que foi, o que é e o que será o jornalismo no Brasil.

Fui lá para compartilhar pensar sobre ciência, universidade e o mundo que os cercam. Natural e compreensível que ímpetos e anseios apareçam: ciência a favor dos setores oprimidos, ciência para o povo etc. Difícil mesmo é, mesmo entendendo os bons propósitos dos sentimentos que geram tais concepções, nos confrontarmos com elas. Imprescindível lembrarmos que ciência é, antes de tudo, o desejo de ir além da fronteira, inovar algo que transcenda o que já se domina, ousar experimentar em novos contextos e propor idéias que se pretendam inovadoras.


Independente da nossa incapacidade de definir a priori o que seja ciência engajada ou ciência qualquer não previamente engajada, há algo de essencial na produção do conhecimento que faz a questão inicial irrelevante. Imaginemos, para efeito de puro exercício, que existissem (lembro que definitivamente é especulativo) as duas ciências, a comprometida com o povo e aquela descomprometida ou mesmo, por suposto, contra os interesses da maioria. Uma pergunta simples: quem, e baseados em quais critérios, fariam o julgamento? Como discernir entre o bom e o mau? Entre o correto e justo separando-o do errado e do injusto?


É da essência da evolução do conhecimento, em qualquer nível e contexto em que se realize, a imprevisibilidade da ciência, da tecnologia que ela por ventura engendra, e as inovações que delas resultam. É o indizível. Observe que isso não nos torna impotentes e nem faz de todas as teorias inocentes e iguais. Pelo contrário, é também do mundo da ciência o debate, a discordância, a contraposição. O que destacamos é que, infelizmente (eu diria felizmente), tais fronteiras entre as modalidades (boas e más) da produção do conhecimento, decididamente, não existem.


Existe sim a necessária crítica permanente, bem como a disposição para estarmos alertas sobre os caminhos que envolvem a produção e a utilização de qualquer novidade. O que é diferente, muito diferente, de nos pressupormos capazes de avaliar ou categorizar as ciências em blocos, a favor ou contra a maioria, sejam esses conhecimentos engajados ou descomprometidos.


Importante que se fale, imprescindível que se ouça, mas inevitável que seja difícil explicar as emoções de dançar colado tanto quanto a beleza intrínseca da novidade de especular no campo do saber. Tal qual dançar, só fazendo e deixando o tempo nos ensinar. Educando a todos, dado que sempre aprendemos e seremos todos, queiramos ou não, estudantes para sempre.

domingo, 18 de janeiro de 2009


Federal de Itajubá, Uma Universidade Coerente com seu Tempo


A Universidade Federal de Itajubá, UNIFEI, é quase centenária, tendo sido fundada em 1.913. As áreas eletrotécnica e mecânica estiveram presentes como áreas centrais desde sua origem.

Da denominação original, Instituto Eletrotécnico e Mecânico de Itajubá – IMEI, passando pela federalização em 1.956, pela transformação em Escola Federal de Engenharia em 1.968, bem como pela transformação em universidade em 2002, algumas características lhe são peculiares enquanto instituição: o dinamismo, a qualidade e a vocação tecnológica.

Ao longo do tempo, outras áreas foram sendo agregadas, tais como engenharia de produção, eletrônica, computação, hídrica, física e até administração. Mesmo esta última ministrada com todas as características de um curso com viés tecnológico.

Pois bem, na semana passada, com muita honra, fui Paraninfo dos formandos 2008 das turmas de engenharia e administração. Já fui homenageado várias vezes por meus estudantes, mas essa vez foi especial e única. Nunca houvera sido antes homenageado por turmas para as quais não havia eu ministrado uma aula sequer.

Curioso era fazer pleno sentido, mesmo que não habitual. Com alguns dos docentes, bem como com alguns estudantes, raros, havia eu tido muito breve contato pessoal anterior nos eventos do CREA/CONFEA/Abenge, no caso das engenharias, e nos eventos da ANGRAD, no caso de administração, mas a imensa maioria era a primeira vez que me encontrava pessoalmente com eles, ainda que aparentando conhecê-los há muito tempo.

Creio que o tínhamos, e temos, em comum era a visão de mundo e o papel da ciência, da tecnologia e da inovação na formação educacional e no exercício do futuro profissional. A UNIFEI tem em todos os seus cursos certas características que lhe são próprias, ainda que não exclusivas, de forte componente tecnológico, de estímulo a uma visão empreendedora de seus estudantes e um apreço pela qualidade em todas as suas dimensões.

Recentemente conversando com um dirigente do SEBRAE, questionei sobre um exemplo no País de bom relacionamento entre pequenas empresas e universidades. Após reclamar genericamente das federais (das públicas, em geral), destacou ele, em sua opinião, a quase singularidade positiva da UNIFEI.

Quando mapeamos no MEC, a partir de um conjunto de indicadores acadêmicos, algo que se aproximasse de um indicador geral de qualidade das universidades brasileiras, de novo, observamos que sempre surgia, entre as primeiras colocações, a UNIFEI.

Esse conjunto de elementos tornara natural, o que me fazia mais honrado ainda, aquele encontro, sendo Paraninfo de turmas que nada havia eu ensinado diretamente a eles. Só me restava, como derradeira mensagem de um Paraninfo, lembrar-lhes de pensamentos de Albert Einstein, entre eles: “Educação é aquilo que fica quando a gente esquece aquilo que nos foi ensinado”.

Aqueles formandos eram educados, mesmo quando, e se eventualmente, esquecessem, no futuro, o que lhes havia sido ensinado, por melhor que eles tivessem aprendido. Uma instituição que trabalha bem o conceito de educação e imprimi esse conceito no ensino que ministra, isso é a UNIFEI.

A preocupação com o processo ensino-aprendizagem é de tal monta que o Reitor Renato Nunes, dirigente exemplar, preocupa-se com elementos reconhecidamente centrais, mas que a muitos passa, eventualmente, despercebido. Uma dessas legítimas preocupações é com a questão de um espaço físico educacional compatível com as incorporações de novas tecnologias.

Ou seja, o mundo atual está em permanente e acelerada transformação e as nossas sala de aula são arcaicas, em todas as suas dimensões. São salas de aula réplicas das salas do ensino médio, remontando aos ambientes da Renascença, como se não houvesse o tempo transcorrido ou que, simultaneamente, transição alguma existisse entre os níveis educacionais, bem como nos diferentes processos de ensino-aprendizagem.

O tema é tão complexo como urgente e, de fato, temos poucos estudos e experiências sobre como repensar os ambientes educacionais à luz de uma nova visão do que significa educar pessoas preparadas aos tempos contemporâneos.

Restando ao Paraninfo torcer para que aqueles formandos saibam enfrentar com competência e sabedoria os tempos atuais. Para eles não há crise. Há desafios, mas eles foram capacitados exatamente para isso.