segunda-feira, 29 de dezembro de 2008




TÁ COMBINADO, 2.061!

Meu amigo Pavão, que é pouca coisa mais velho do que eu, quer ver a próxima passada do cometa Halley. Em 2.061. Também quero estar presente, mas sou mais modesto, quero vê-lo cruzar e fim.

Em 1705, Edmond Halley, que fez o prefácio do Principia, de Isaac Newton e principal responsável por convencê-lo a publicá-lo, usando suas (de Newton) novas leis à respeito do movimento, previu que o cometa visto em 1531, 1607 e 1682, retornaria em 1758. Halley morreu antes e não viu sua previsão confirmada. Pena, mesmo assim, talvez por isso, o cometa foi, posteriormente, nomeado em sua honra.

Voltando a estar vivo em 2.061, o ideal seria mesmo podermos definir nosso final de trajetória neste planeta. Assim sendo, estou quase (pouco adiante) do meio da vida, portanto, muito ainda por se fazer. Com a vantagem que aquele tempo que levamos para aprender a andar, falar, crescer e estudar coisas básicas parece vencido.

Digo parece porque andar vejo muito idosos que sugerem ter desaprendido. Sobre falar, há sempre novos idiomas obrigatórios e nada sei de mandarim, por exemplo. Crescer, para os lados, todos continuamos sempre. Acerca de estudar então, cada vez surgem mais novidades básicas que sei quase nada.

Mesmo assim é uma tranqüilidade poder marcar a data de saída, despedida deste prazeroso convívio. Duro é que em 2.061 boa parte dos amigos e amigas já terão ido. Desta para melhor, mas na dúvida de onde fica o melhor e se eu vou também para lá, melhor sempre fazer novos amigos. Daqueles que vão pra todas as partes, melhores e piores.

O Pavão parece que fica por aqui neste planeta por mais um tempo, mas os demais...

sábado, 20 de dezembro de 2008










HARLEM, CASA DOS OUTROS E NOSSA TAMBÉM






Harlem, bairro de Manhattan na cidade de Nova Iorque, foi nas décadas de 1920 e 1930 o coração da cultura negra nos Estados Unidos.

Expressões desse apogeu foram figuras como Billie Holiday e Ella Fitzgerald que frequentaram espaços tradicionais como Cotton Club e Apollo. A Grande Depressão da década seguinte pegou pesado com o bairro e até a década de 1980 o Harlem caracterizou-se, principalmente, pela pobreza, desemprego e altas taxas de criminialidade.

A partir da década de 1980 a história muda em termos de interesses imobiliários e ao longo dos tempos recentes o Harlem tem recuperado seu prestígio e um período de renascimento ainda está em curso. Terra "deles" e nossa também. Como a Amazônia, ora.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008








ÚLTIMOS ROMÂNTICOS

Ronaldo Mota


A pretensão do título é idêntica a achar que romântico é sempre bom. Nem sempre, embora os românticos sempre assim entendam. Portanto, é sim pretensão e é parte inexorável do romantismo.

O governo Lula, restando por findar-se poucos dias a mais que dois anos, sugere balanços, mesmo que parciais, e eles serão muito positivos. Até mesmo onde alguns acharam que não. Mexeu muito, inclusive nas pessoas que administram o país.

Defendo a concepção de uma burocracia estatal estável, permanente, competente e remunerada decentemente. Tudo isso é possível e passos importantes têm sido dados nessa direção, ainda que inconclusa a missão. Mas o tema que quero tratar é outro, ainda que correlato.

Nos sistemas democráticos é desejável que partidos ao terem sucesso eleitoral façam uso de seus quadros, os mais competentes, para auxiliar a formular e implementar as políticas que submeteram ao julgamento popular. É também intrínseco da democracia que os arranjos permitam acomodações de quadros que nem sempre primam pelo desejável domínio da especialidade, fragilizando, de alguma forma, a capacidade de implementação e formulação. É a democracia, com seus ônus e bônus.

Inegável que os últimos governos, Fernando Henrique e Lula, cada qual à sua maneira, ambos propiciaram que uma geração de profissionais menos habituados ao exercício da administração central enfrentassem o desafio. Cada período exigiu que formuladores, motivados por suas convicções políticas e ideológicas, dessem prioridade ao exercício de funções burocráticas, ainda que correlatas ao que faziam anteriormente, e tivessem oportunidades que lhes pareciam, no passado, menos próximas.

A nação tem presenciado os melhores formuladores, em cada distinto governo, sempre legitimados pelo referendo popular, realizar o exercício prático de suas idéias. Que mais pode querer de bom um país?

Com romantismo, mas sem prejuízo da apreensão correta da realidade, todos têm aprendido, acertaram e erraram, mas inquestionavelmente tem se formado um elenco de profissionais que, além de seu fazer específico, aprendeu a auxiliar a governar. Sem medo, sem inibição ou preconceitos com o poder, pelo contrário, se orgulhando de se sentirem governo.

No entanto, é também verdade a constante mudança das coisas (os budistas denominam “impermanência”). Assim, preocupa-me não o que ficou para trás. Indago-me mais sobre o que vem pela frente. Cada vez parece que encontramos menos pessoas com esse perfil. Encontro-as mais indo do que vindo. Há, infelizmente, uma relativa retração de um movimento positivo de atração de profissionais, aptos e desejosos da oportunidade da formulação à ação, enfrentando o desafio do exercício administrativo público. Parece haver, em sentido oposto, uma maior consolidação relativa em direção àqueles mais periféricos, menos pretensiosos, que compensam as deficiências na capacidade de formulação pela aptidão com que sobrevivem favorecidos pelo apreço ao poder e do poder.

Assim, preocupa-me podermos ter, gradativamente, um contexto de uma burocracia estatal, que ainda não se consolidou totalmente, acompanhada, cada vez mais, de transitórios com pouca capacidade de formulação e, definitivamente, sem nenhum romantismo.

Ronaldo Mota é professor titular em física da Universidade Federal de Santa Maria, pesquisador do CNPq, assessor especial do Ministro no Ministério de Ciência e Tecnologia, tendo sido secretário executivo do Conselho Nacional de Educação, secretário de Educação a Distância e secretário de Educação Superior no Ministério da Educação.







Saudades dos hippies


Ronaldo Mota





Neste período de vestibular nossas ruas parecem ter mais jovens do que já os temos em abundância em tempos normais. Não há dúvidas de que parte de nossas críticas e incompreensões aos jovens traduzem um pouco de inveja da juventude já partida.
Evitando fazer premonições sobre o que virá, é menos rancoroso pensar o que já foi. Talvez ajude a pensar que na época os pais e avós também não entenderam. Portanto, quem sabe a gente não esteja entendendo e algo possa estar ocorrendo e nos fugindo aos olhos.


Falando do passado, o movimento hippie é, sem dúvida, um capítulo à parte. Refere-se a um movimento que teve seu ápice no decorrer da década de 1960 e começo da década de 1970. Caracterizou-se por algo denominado genericamente de contracultura. Os hippies, juntamente com os grupos de esquerda e os movimentos pelos direitos civis e contra a guerra confundiram-se, às vezes, dando cores variadas a aquele período.


Particularmente, os hippies eram jovens, na sua imensa maioria na faixa da adolescência ou de adultos na casa dos vinte anos. Fortes críticas aos valores das classes médias, em geral suas classes de origem, foram marcas fortes. A liberação sexual, impulsionada pelo livre acesso às pílulas anticoncepcionais, foi uma marca registrada daqueles anos. A vida em comunidade trazia marcas de movimentos quase religiosos.
Em resumo, os aspectos libertários, a luta pela paz, a pregação da fraternidade e fim das fronteiras, a aversão a todas as formas de opressão deixaram mais do que saudades, deixaram um sentimento de vazio imenso nas décadas que se seguiram. Nas artes suas contribuições foram fantásticas, do rock, blues e folk no cenário internacional, aos movimentos nacionais que se seguiram como bossa nova, jovem guarda e, especialmente, o tropicalismo. Na literatura e nas artes dramáticas esse período deixou marcas profundas e muito positivas.





Essas lembranças servem para termos uma dimensão do que a juventude é capaz e um pouco, somente um pouco, nos dar uma leve tristeza quando nos tempos atuais não conseguimos detectar iniciativas parecidas, em que pesem as mesmas guerras, as mesmas opressões, os mesmos vazios culturais etc. As lembranças nos ajudam a ter esperanças de termos, quem sabe, um amanhã que nos relembre o passado, não tão longuinho assim.



EDUCAÇÃO CONTRA O RACISMO

Ronaldo Mota



As discussões envolvendo educação superior e políticas afirmativas são complexas e as opiniões, mesmo que opostas, são, respeitáveis e compreensíveis. O que não impede que as mais arraigadas e definitivas posições, em geral, reflitam mais características de paixão, preconceito e, por vezes, ignorância do que, de fato, convicção assentada em conceitos e dados científicos e confiáveis.

Se não bastassem as variáveis que o tema envolve, é muito mais fácil comprovar a existência de racismo, enquanto comportamento social, a garantir base científica que assegure o conceito ou critério inequívoco de raça. Ou seja, embora não existam dúvidas sobre a existência de racismo, ainda restam indagações científicas relevantes sobre conceitos e critérios de raça.

Assim, mais do que raça propriamente, o que existem são grupos sociais, compostos por pessoas com histórias em comum, que ao se identificarem entre si por algumas semelhanças, por terem vivenciado experiências conjuntas, compartilhado valores, cultura, hábitos e costumes, podem, ou não, expressar tal identidade tanto na cor da pele como em fenótipos.

Creio que seja baseado em tais elementos, mais do que em árvores genealógicas por testes de DNA, que as pessoas, ao responderem aos entrevistadores do IBGE, se auto declaram brancas, pardas, negras, amarelas ou indígenas.

Há em curso no Brasil conjunto de políticas afirmativas variadas, cotas ou bônus, viés social ou racial. Todas com característica em comum: até onde pudemos identificar, elas apresentam, sem exceção, bons resultados. Algumas alternativas parecem gerar melhores e mais rápidos resultados, no que diz respeito a acesso e sucesso, outras mais lentas, mas nenhuma experiência claramente inócua ou negativa. Ou seja, estudantes ingressos via qualquer desses sistemas têm demonstrado rendimentos acadêmicos iguais ou melhores, quando comparados com seus próprios colegas de turma.

Além disso, por mais que se anuncie a ocorrência de incremento de racismo no ambiente educacional devido à implantação dessas políticas, tal fenômeno está longe de ser observado. Se ocorrem manifestações, elas têm sido pontuais e em níveis inferiores àqueles presentes em outras esferas da sociedade.

Acerca do sucesso dessas políticas afirmativas, é provável que a correlação estabelecida entre todas experiências talvez evidencie e reflita algo predominante nelas: o enorme exército de jovens intelectualmente talentosos e socialmente desfavorecidos, de variadas cores e origens, os quais temos sistematicamente desperdiçados na educação. São pessoas com competência, criatividade, vocação e vontade de estudar que nos acostumamos a, através de filtros predominantemente econômicos, excluir e que, tendo oportunidade, a ela se apegam e evidenciam seus talentos.

A proposta apresentada pelo Executivo Federal (Reforma Universitária), em discussão no Congresso Nacional, tem alguns méritos: estabelece metas com prazos, trabalha com o conceito de “sem prejuízo acadêmico” e permite, dentro de certos limites, que cada instituição, a partir de sua autonomia, monitore a aplicação de seus próprios modelos. Metas são estabelecidas, sem abrir mão de conceitos relevantes de políticas afirmativas e de respeito e estímulo à autonomia das universidades, desde que todas as instituições, ao longo de um tempo com horizonte definido, cumpram com objetivos bem delimitados.

Tendo a aceitar todas as posições com naturalidade, no entanto, confesso minha dificuldade em entender a insensibilidade em saber que no curso de medicina da Universidade Federal da Bahia, antes das cotas, praticamente não havia negros ou pardos e que na Universidade Federal do Ceará no curso de arquitetura eram, ou ainda são, raros os estudantes egressos de escolas públicas.

Tão pretensamente brancas eram nossas universidades, especialmente as públicas, que certa vez um dirigente, deixando escapar, talvez de orgulho, indagou-me: o senhor já reparou que quase não temos negros? Ao que respondi: que pena, dado que está mais do que comprovado que quanto maior a diversidade étnica melhor a qualidade de qualquer atividade humana, especialmente em educação e na produção de ciência, tecnologia e inovação. Além disso, provoquei: deve faltar alegria, arte e criatividade no espaço. Nem sei se o compreendo direito e muito menos se ele me compreendeu.

Entre piranhas e jacarés

Ronaldo Mota

No ano passado realizei um sonho: nadar entre piranhas e jacarés. Foi no Pantanal, no Instituto de Pesquisa do Pantanal, IPPAN, bem no meio daquela região única no planeta, a maior região alagável do planeta.
Trata-se de uma biodiversidade maior do que a encontrada na região amazônica (incrível!). Mesmo assim, com tanta biodiversidade, é um ecosistema tremendamente frágil, preocupante. Aquilo que parece tão rico e forte, às vezes, evidencia-se merecedor de todo cuidado, uma delicada e preciosa peça.
Na verdade, nós precisamos nos preocupar com sua preservação, ainda que, em alguns momentos, como aqui relato, somos nós que, momentaneamente, nos preocupamos com nossa preservação imediata no meio daquela espantosa e admirável diversidade animal e vegetal da região.
É possível (ainda que perigoso) nadar entre piranhas e jacarés. É preciso cautela e técnica. Primeiramente algumas regras básicas: se entrar muito ligeiro na água, elas, as piranhas, não titubeiam, atacam. Se ficar muito tempo parado, estático, idem. Assim, com relação a “elas”, o segredo é o movimento constante e lento.
Evitado o perigo das piranhas, o segundo obstáculo é o jacaré. Em geral, sem problemas, desde que não seja a jacaré fêmea e tenha filhotes por perto. Dá para saber, mas é importante que isso seja percebido quando você está a uma distância que dê para recuar, senão....
Por fim, suponhamos que piranhas e jacarés estejam resolvidos, aí vale o alerta do pantaneiro, conhecedor profundo da casa, cuidado com quem você deve mesmo ter cuidado: as arraias. Estas sim, ficam paradinhas, você nem desconfia, elas não são de fazer muita algazarra, mas se o ferrão entra, sangra e você se descontrola e o sangue e o barulho despertam os demais. Aí, ferrão acrescido de piranhas e jacarés, está feito o crime.
Passadas todas as instruções, agora é coragem e nadar sem medo, lembrando de arrastar os pés no fundo, evitando assim, as arraias e seus ferrões. Depois de um tempo, fica-se tão confiante que o risco passa a ser esquecer as regras.
Anoitece no Pantanal, feita a bravura da vida, cheio de coragem, resta retornar a Brasília, onde não há jacarés, nem piranhas, o que dirá arraias. Onde se pode deslocar sem medo, até com barulho. Se quiser ficar quieto, tudo bem. Jacaré não tem cria e arraia não tem ferrão. Aí, não sei por que, tenho cada vez mais medo e aconselho não entrar na água, por precaução.


Que venha o Carnaval


Ronaldo Mota




Poucos sabem que o Carnaval é marcado pelo Igreja. Mais do que isso, sendo de certa forma uma festa legitimamente cristã. É um período de festa regido pelo ano lunar que tem suas origens na antiguidade e recuperada pelo cristinaismo, que começava no dia de Reis (Epifania) e acabava na quarta-feira de cinzas, às vésperas da Quaresma.


Tratava-se dum adeus à carne, ou o que é mais aceito é que a palavra "Carnaval" decorre da expressão carne levare, ou seja, afastar a carne, uma espécie de último momento de alegria e festejos profanos antes do período triste da Quaresma.


Na sua versão mais moderna, o Carnaval de desfiles e fantasias vem da sociedade vitoriana do século XIX, quando as cidades de Paris e Veneza eram o Rio de Janeiro da época. Sendo sincero e para desgosto dos brasileiros, pode-se disser que o Rio de Janeiro, bem como Nova Orleans nos Estados Unidos, se inspiraram no Carnaval francês para implantar suas novas festas carnavalescas.

Como não poderia ser diferente, o Carnaval tem também raízes históricas que remontam aos bacanais e a festejos similares em Roma, relacionados a celebrações em homenagem à deusa Ísis ou ao deus Osíris, no Egito antigo.

Em Roma havia uma festa, a Saturnália, em que um carro no formato de navio abria caminho em meio à multidão, que usava máscaras e promovia as mais diversas brincadeiras.

O certo é que alguns adoram carnaval e outros odeiam. Para outros tanto faz, nos quais me incluo. Na linha do: “Já fui bom disso, na mesma época em que jogava futebol”. Hoje os joelhos prejudicaram os dois. Gol tem a mesma chance que correr atrás de um trio elétrico.
Mesmo não sendo o mais fanático, Carnaval tem o seu valor. Já passei dois na Bahia, em Salvador, e quatro em Olinda, Pernambuco. São bons, mas há que se estar no ritmo. Não aconselho (quem sou eu para conselheiro no tema) a chegada abrupta, no dia. Mas, cada caso é um caso e boa sorte para quem arrisca.
Em suma, que venha o Carnaval. Seja muito bem-vindo. Pelo menos Brasília pára, Capão da Canoa a todos nos acolhe e que faça sol, muito sol, para que lembremos, pelo menos à noite, vendo alguns mascarados bâbados, que, afinal, é Carnaval.