Todos os pais querem,
ainda que nem percebam com clareza,
que seus filhos um dia sejam órfãos.
Refletindo um fato natural,
que aqueles mais idosos nos deixem antes
e jamais passem pela insuportável tristeza
de enterrar os mais jovens.
Mesmo assim, a dor é imensa
e o tornar-se órfão está longe de ser fácil.
Há espaços de conversas
que são próprias de pais com filhos
e quando nos faltam
parece que um vazio sem tamanho se abre,
uma ausência impossível de se cobrir.
mas que perdura breve,
logo retornando a saudade do que nem sequer houve.
Uma saudade de um futuro abortado,
mas que a lembrança do passado procura consolar,
ainda que não consiga, tenta.
Pai e mãe, só há um de cada
e cada qual cumpre de forma única seu papel.
Nós, uma vez filhos, outras pai e algumas mãe.
Pouco importa, a vida segue
e só nos resta seguir na vida.
Ainda que a morte sinalize somente a primeira etapa,
enquanto houver lembrança haverá vida.
Vida espalhada em cada um
que por meio da lembrança
faz a vida deles seguir adiante simulada por nós.
Presentes nas forças para incluir em nossas vidas
cada um de seus feitos, desejos e convicções.
Permitindo que a vida possa fluir
como eles queriam que fosse, afinal.