domingo, 9 de janeiro de 2011



Complexo Tim Lopes e Inovação Social


No dia 02 de junho de 2002, Tim Lopes, jornalista da TV Globo, partiu para mais uma reportagem investigativa na Vila Cruzeiro, uma das 12 favelas integrantes do morro conhecido como Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Tim Lopes vestia bermuda, camisa amarela e sandálias.


Uma semana após seu desaparecimento, sua morte foi anunciada e a uma quadrilha de um grupo organizado foi responsabilizada. De fato, Tim Lopes foi barbaramente espancado, seu corpo foi esquartejado e queimado em pneus numa gruta, método conhecido como “microondas” e muito usado por traficantes para matar policiais ou informantes e eliminar rastros que possam servir de provas contra seus assassinos.


Mais de oito anos após, a polícia iniciou, por volta das 8h do último dia 28 de novembro, a ocupação do Complexo do Alemão. A operação contou com policiais civis, federais e militares, além de homens do Exército e da Marinha, que usaram tanques e veículos blindados.


Passado um mês da invasão, a qual contou com forte apoio da população, uma nova realidade estava instalada. A Polícia Civil de todas as delegacias da capital entregou milhares de presentes para as crianças da Vila Cruzeiro, evidenciando um novo clima na região. Um helicóptero da Polícia Civil participou da operação e um policial desceu de rapel para a entrega dos presentes que foram doados pelos próprios policiais. Os presentes foram levados à comunidade dentro do caveirão, o veículo blindado utilizado nas operações policiais.


Inovação compreende um produto ou processo novo, bem como a introdução de uma qualidade ou funcionalidade inédita de um produto já existente. Assim, inovação implica em tecnologia, máquinas e equipamentos, mas vai muito além, contemplando também mudanças radicais ou incrementais, novas funcionalidades, bem como melhorias na gestão ou novos modelos de negócios. Inovação, inclusive inovação social, está presente na sociedade como nunca esteve antes.


O processo de transformação em curso no chamado Complexo do Alemão é inquestionável. Como em toda mudança radical de um produto, processo ou inédita funcionalidade, um novo nome é aconselhável para completar e consolidar seu processo transformativo. O clima do morro mudou, o complexo não é mais o mesmo. Temos agora um novo paradigma e a denominação inovadora deveria ser, legitimamente, Complexo Tim Lopes.


Ademais, mesmo porque, ao contrário do que alude à denominação genérica de Alemão, Tim Lopes sim era negro, trabalhador, gostava de sandálias e camisas soltas e era figura plenamente integrada e em harmonia com a realidade atual daquelas vizinhanças. Seria natural considerarmos a sugestão de nos referirmos, a partir daqui, ao Complexo Tim Lopes.