quinta-feira, 18 de dezembro de 2008


Entre piranhas e jacarés

Ronaldo Mota

No ano passado realizei um sonho: nadar entre piranhas e jacarés. Foi no Pantanal, no Instituto de Pesquisa do Pantanal, IPPAN, bem no meio daquela região única no planeta, a maior região alagável do planeta.
Trata-se de uma biodiversidade maior do que a encontrada na região amazônica (incrível!). Mesmo assim, com tanta biodiversidade, é um ecosistema tremendamente frágil, preocupante. Aquilo que parece tão rico e forte, às vezes, evidencia-se merecedor de todo cuidado, uma delicada e preciosa peça.
Na verdade, nós precisamos nos preocupar com sua preservação, ainda que, em alguns momentos, como aqui relato, somos nós que, momentaneamente, nos preocupamos com nossa preservação imediata no meio daquela espantosa e admirável diversidade animal e vegetal da região.
É possível (ainda que perigoso) nadar entre piranhas e jacarés. É preciso cautela e técnica. Primeiramente algumas regras básicas: se entrar muito ligeiro na água, elas, as piranhas, não titubeiam, atacam. Se ficar muito tempo parado, estático, idem. Assim, com relação a “elas”, o segredo é o movimento constante e lento.
Evitado o perigo das piranhas, o segundo obstáculo é o jacaré. Em geral, sem problemas, desde que não seja a jacaré fêmea e tenha filhotes por perto. Dá para saber, mas é importante que isso seja percebido quando você está a uma distância que dê para recuar, senão....
Por fim, suponhamos que piranhas e jacarés estejam resolvidos, aí vale o alerta do pantaneiro, conhecedor profundo da casa, cuidado com quem você deve mesmo ter cuidado: as arraias. Estas sim, ficam paradinhas, você nem desconfia, elas não são de fazer muita algazarra, mas se o ferrão entra, sangra e você se descontrola e o sangue e o barulho despertam os demais. Aí, ferrão acrescido de piranhas e jacarés, está feito o crime.
Passadas todas as instruções, agora é coragem e nadar sem medo, lembrando de arrastar os pés no fundo, evitando assim, as arraias e seus ferrões. Depois de um tempo, fica-se tão confiante que o risco passa a ser esquecer as regras.
Anoitece no Pantanal, feita a bravura da vida, cheio de coragem, resta retornar a Brasília, onde não há jacarés, nem piranhas, o que dirá arraias. Onde se pode deslocar sem medo, até com barulho. Se quiser ficar quieto, tudo bem. Jacaré não tem cria e arraia não tem ferrão. Aí, não sei por que, tenho cada vez mais medo e aconselho não entrar na água, por precaução.

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